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FLP0449

Temas do Pensamento Político Latino-Americano

Graduação

Professor(a):
Bernardo Ricupero

FLP0449 TEMAS DO PENSAMENTO POLÍTICO LATINO-AMERICANO

Professor Responsável: Bernardo Ricupero

Estagiários PAE: Maria Raphaela Luchini Caldeira Campello

                               Rafael Marino

Objetivo

A disciplina persegue uma ideia: a ideia de América Latina. Procura entender como a categoria foi constituída e contestada em diferentes momentos: em meados do século XIX, nas disputas imperialistas entre EUA e França; no início do século XX, momento da crise do positivismo e da emergência do modernismo; no segundo-pós-guerra, quando ocorre a desagregação definitiva dos impérios coloniais; nos anos 1980´s, em que se tem a transição de regimes autoritários e, concomitante com ela, uma crise de autoconfiança dos EUA. Nesse sentido, o termo “América Latina” passa a assumir novos significados, que provavelmente tornam irreconhecível seu sentido original. De forma complementar, não foi fácil entender, nesses diferentes momentos, o lugar do Brasil no continente que então se criava. Confrontando esse problema, pode-se, numa frente, perceber melhor os próprios limites da concepção de América Latina então formulada. Já numa outra frente,é possível avançar na compreensão da difícil relação do país lusófono com seus vizinhos hispano-falantes.

De maneira significativa, os personagens de A Tempestade, Caliban, Ariel e Próspero (mas não Miranda), aportam, no fim do século XIX, em países que começam a ser identificados com a América Latina. Entre latino-americanos, é, em especial, o impacto da Guerra Hispano-Americana de 1898 e o desafio que passa a representar os EUA que faz com que verdadeiras alegorias tomadas emprestadas da peça de William Shakespeare se aclimatem num ambiente muito diferente do original. Em termos mais imediatos, é significativo como diversos autores provenientes da região fazem uso, a partir de então, dessas referências para lidarem com questões que lhe dizem respeito e, assim, ajudam a consolidar uma identidade latino-americana. Mais especificamente, é possível identificar um “momento Ariel”, um “momento Caliban” e um “momento Próspero” nas leituras e usos latino-americanos da peça shakespeariana. Nessa referência, estes diferentes usos de A Tempestade servem como uma espécie de instrumento para entender como a identidade latino-americana foi pensada ao longo do século XX.

Avaliação

A avaliação levará em conta:
1-) Ao longo do curso, as alunas e os alunos deverão entregar, pelo fórum do moodle, pelo menos 4 pequenas intervenções ou “reações” (pode ser um comentário opinativo, uma dúvida, uma dificuldade etc.) sobre o texto indicado na bibliografia obrigatória (30% da nota final);
2-) Trabalho final, cujo modelo será explicado ao longo do semestre.

Conteúdo e Bibliografia

Introdução.

Aula 1: 16 e 17/08. Apresentação do curso.

Aula 2: 23 e 24/08. América Latina: o nome e a coisa.

BILBAO, Francisco. “Iniciativa de la América. Idea de un Congreso Federal de las repúblicas” in ZEA, Leopoldo (org.). Fuentes de la cultura latino-americana. México: FCE, 1995.

TORRES CAICEDO, José Maria. “Las dos Américas” in www.filosofia.org/hem/185/18570215.htm

MIGNOLO, Walter. The idea of Latin America. (“‘Latin’ America and the first reordening of the modern/colonial world”). Malden: Blackwell Publishing, 2012. (há versão em espanhol)

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

ARDAO, Arturo. América Latina y la latinidad. Cap. 1.“Genésis de la idea y el nombre América Latina”. México: UNAM, 1993.  

CHEVALIER, Michel. Lettres sur l´Amérique du Nord. (Introduction). Bruxelles: Société Belge de Librairie, 1837.

PHELAN, John. El origen de la idea de América” in Latinoamérica. Cuadernos de Cultura Latinoamericana. 31. México: CCyDEL/UNAM, 1979.

ROJAS MIX, Miguel. “Bilbao y el hallazgo de América Latina: Unión continental, socialista y libertaria…” in Caravelle. Cahiers du monde hispanique et luso-brésilien, n. 46, Touluse, 1986.

Aula 3: 30 e 31/08. A Tempestade e a América.

SHAKESPEARE, William. The Tempest. Oxford: Oxford University Press, 2008.         

___A Temprestade. Trad. Barbara Heridoro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

RICUPERO, Bernardo. “A Tempestade e a América” in Lua Nova, n. 93, 2014.

VAUGHAN, Alden T, 1988. The Americanization of Caliban. In: Shakespeare Quartely. Washington D.C.: vol. 39, n. 2.

II. O momento Ariel.

Aula 4: 13 e 14/09.  Ariel chega à América.

DARÍO, Rubén. Los raros. “Edgar Allan Poe”.  Madrid: Editorial Mundo Latino, 1920.

___ “El triunfo de Calibán” in Revista Iberoamericana. V. 64, n. 184-185, 1998.

GROUSSAC, Paul. Del Plata al Niagra. Cap. XV. “Chicago: La ciudad y la exposición”. Buenos Aires: La Biblioteca, 1897.

___“Discurso del sr. Groussac” in España y Estados Unidos. Buenos Aires: Compañia Sud-Americana de Billtetes de Banco, 1898.

Aula 5: 20 e 21/09. Um continente para Ariel.

RODÓ, José E. Ariel y Motivos de Proteo. “Ariel”. Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1993.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

BROTHERSTON, Gordon. “Introduction” in RODÓ, José Enrique. Cambridge: Cambridge University Press, 1968.

COLOMBI, Beatriz. Viaje intelectual. Migraciones y desplazamientos en América Latina (1880-1915), Rosario: Beatriz Viterbo, 2004.

ECHEVERRÍA GONZALES, Roberto. in La voz de los maestros.El extraño caso de la estatua parlante: "Ariel" y la retórica magisterial del ensayo latinoamericano”. Madrid: Verbum, 2001.

RODRÍGUEZ MONEGAL, Emir. “Introducción general” in RODÓ, José Enrique. Obras completas. Madrid: Aguilar, 1957.

JÁUREGUI, Carlos.  “Calibán ícono del 98. A propósito de un artículo de Rubén Dario”  in Revista Iberoamericana. V. 64, n. 184-185, 1998.

VAUGHAN Alden T. e VAUGHAN, Virginia M. Shakespeare´s Caliban: a cultural history. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

WEINBERG, Liliana. “Una lectura del Ariel” in Cuadernos Americanos, v. 1, n. 85, 2001.

III. Brasil: A República e a descoberta da América.

Aula 6: 27 e 28/09.  A América Latina como perigo.

NABUCO, Joaquim. Balmaceda. Rio de Janeiro: Typographia Leuzinger, 1895.

Aula 7: 04 e 05/10. Uma outra América.

NABUCO, Joaquim. Obras completas. v. x. Pensamentos soltos; Camões e Assuntos Americanos. “A parte da América na civilização”; “A aproximação das duas Américas” São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1949.

BONFIM, Manoel. América Latina: males de origem. Advertência; A América Latina: estudo de parasitismo social; A Europa e a América Latina; A opinião corrente; Consequência da malevolência europeia; Parasitismo e degeneração; Organismos biológicos e sociais; Causas da degeneração; Resumo e conclusão. Rio de Janeiro: Topbooks, 1993.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

BAGGIO, Kátia. A outra América: a América Latina na visão dos intelectuais brasileiros das primeiras décadas republicanas. Tese (Doutorado em História) Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.

BETHELL, Leslie. “O Brasil e a ideia de "América Latina" em perspectiva histórica” in Revista de Estudos Históricos, v. 22, n. 44, 2009.

CERVO, Amado; BUENO, Clodoaldo. (1992), História da política exterior do Brasil. São Paulo: Editora Ática.

JANOTTI, Maria de Lourdes. (1986), Os subversivos da República. São Paulo: Brasiliense.

LIMA, Manoel de Oliveira. Panamericanismo. “Antes da Conferência”. Rio de Janeiro: H. Garnier, 1907.

PRADO, Eduardo. A ilusão americana. Paris: Armand Colin et Cie., Éditeurs, 1895.

IV. O momento Caliban

Aula 8: 18 e 19/10. Caliban contra Próspero.

MANNONI, Octave. Psychologie de la colonisation. Introdução. Parte I. Cap. 1. Parte II. Cap. 1. Parte III. Cap. 2. Paris: Éditions du Seuil, 1950. (há edição em inglês).

Aula 9: 25 e 26/10. Uma outra Tempestade.

CESAIRE, Aimé. Une tempête. Paris : Éditions du Seuil, 1969 (há edições em inglês e espanhol).

Aula 10: 8 e 9/11. Um continente para Caliban.

FERNANDEZ RETAMAR, Roberto. “Calibán” in Todo Calibán. Buenos Aires, CLACSO, 2004.

Aula 11: 22 e 23/11. Caliban ou Canibal?

ANDRADE, Oswald. “Manifesto Pau-Brasil”; “Manifesto Antropofágico”; “A crise da filosofia messiânica” in A utopia antropofágica. São Paulo: Editora Globo, 1990.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

AZEVEDO, Beatriz. Antropofagia – Palimpesto selvagem. São Paulo: Cosac Naify, 2016.

CESAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Caps. 1, 2 e 4. Lisboa : Livravia Sá da Costa Editora, 1978.

FANON, Franz. Pele negra, másscara branca. Cap. 4. “Sobre o pretenso complex de dependência”. Salvador: EDUFBA, 2008.

JÁUREGUI, Carlos. Canibalia. Caps. 5 e 6. Madrid: Iberoamericana editorial, 2008.  

NUNES, Benedito. “A antropofagia ao alcance de todos” in in A utopia antropofágica. São Paulo: Editora Globo, 1990.

RODRÍGUEZ MONEGAL, Emir. “The metamorfoses of Caliban” in Diacritics, 1977.

SCHWARZ, Roberto. “Nacional por subtração” in Que horas são?. São Paulo: Companhia das Letras,

V. O Momento Próspero

Aula 12: 29 e 30/11 – Próspero diante do Espelho.

MORSE, Richard. O espelho de Próspero. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

Aula 13: 06 e 07/12 – Richard Morse e seus leitores brasileiros.

MORSE, Richard. “A miopia de Schwartzman”. Novos Estudos CEBRAP. 1989, 2, 24: 166-178.

SCHWARTZMAN, Simon.  “O espelho de Morse”. Novos Estudos CEBRAP.1988, 22: 185-192.

___“O gato de Cortázar”. Novos Estudos CEBRAP. 1989, 25: 191-203.

VIANNA, Luiz Werneck. “Vantagens do moderno, vantagens do atraso”. Presença. 1988, 12: 146-162.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

CANDIDO Antonio et alii. Um americano intranquilo. Rio de Janeiro: FGV, 1992.

DOMINGUES, Beatriz; BLASENHEIM, Peter (editores) Código Morse: ensaios em homenagem a Richard Morse. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2010.

MERQUIOR, José Guilherme. (1989), “El otro occidente”. Cuadernos Americanos. 3, 13: 9-23.

MORSE, Richard. “Dez anos de Próspero”. Presença, 1992.

OLIVEIRA, Lúcia Lippi. “Anotações sobre um debate”. Presença, 1991, 16: 26-4.

TENORIO, Mauricio. “Profissão: Latin Americanist: Richard Morse e a historiografia norte-americana da América Latina”. Estudos Históricos. 1989, 2, 3: 102-132.

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